sábado, 10 de fevereiro de 2018

ESCRAVIDÃO EM ITAÚNA PARTE I

Grande centro de agricultura e pecuária que abastecia as zonas de mineração no período do ouro, tornando-se depois uma espécie de entreposto da região circunvizinha - Sant'Ana de São João Acima possuía grandes fazendas de criação e agricultura o que explica o número considerável de escravos que habitavam o seu território.

Coevos da Abolição calculam razoavelmente em cerca de um milhar a população que a Lei Áurea libertou. Isso, para um pequeno distrito perdido no âmago do sertão mineiro, dá uma ideia da importância econômica de Itaúna naquela época. O comércio de escravos era feito com regularidade e em grandes proporções pela família de João Francisco, do Cortume, pela firma Moreira e Filhos e outros, sendo os maiores proprietários de escravaria o Cel. Manoel Gonçalves Cançado, da fazenda da Cachoeira, hoje Santanense; Cel. Quintiliano Lopes Cançado, da fazenda Antônio Jose de Siqueira e outros.

Gente de religião e dotada de bons sentimentos, os itaunenses sempre foram senhores compassivos para com os escravos. Havia pequenas exceções, cuja fama, é justo notar, já nos chega um pouco exagerada pela tradição. Assim é que contam horrores da fazenda da Bagagem, onde os escravos sofriam suplícios atrozes de uma senhora sem entranhas, que foi a esposa do fazendeiro Custódio Coelho Duarte. Até há pouco tempo existiam efetivamente, na Bagagem, os instrumentos de castigo para os negros que, não suportando mais os sofrimentos, dizem que se atiravam no açude da fazenda, suicidando-se. 



Imagem ilustrativa de fundo: Matt Botsford








TEXTO:
FILHO, João Dornas. Itaúna: Contribuição para a História do Município. Belo Horizonte. 1936, p.33.
Foto: Brasiliana Fotográfica
Pesquisa e organização: Charles Aquino


sexta-feira, 9 de fevereiro de 2018

ITAÚNA: VOCABULÁRIO QUIMBUNDO PARTE I


O vocabulário quimbundo, é evidentemente lacunoso e como acredito que seja a primeira tentativa feita no Brasil com o fim de recolher esse importante material etnográfico, penso que prestará algum serviço aos estudiosos do assunto e concorra para trabalho mais amplo exigido pela afrologia brasileira.
Belo Horizonte, outubro de 1942
João Dornas Filho

VOCABULÁRIO QUIMBUNDO
Parte I
Os estudos sobre o negro brasileiro têm se ressentido da falta de um conhecimento mais exato da língua que falavam os pretos importados pelo tráfico, talvez porque hoje, quando o interesse por esses assuntos cresceu à altura da sua importância, já quase não existem mais africanos ou descendentes próximos de africanos que conheçam a língua dos seus maiores.

E o conhecimento desse ramo do assunto é fundamental a uma análise perfeita, porque a língua, nas suas características, no seu gênio, nas suas formas diversas, é a chave de muitos problemas de folclore, sociologia, etnografia e outros prismas da questão.

O vocabulário que apresento aos estudiosos brasileiros é evidentemente lacunoso, mas já constitui uma contribuição aqueles que melhor aparelhados quiserem completa-lo, ampliando-lhe o número de palavras e retificando-lhe a pronuncia e a significação.

Principalmente a pronúncia que varia de pessoa a pessoa e a gente não pode fixa-la porque não tem um ponto de referência na literatura escrita, que a língua não possui.

O quimbundo, ou “undaca de quimbundo”, que conhecemos, é um dialeto congoês que, em presença do novo meio onde se expandiu, há de ter se modificado bastante em relação à pureza original. 

Mas é justamente por esse motivo que ele mais nos interessa. Por essa transformação operada com o fim de servir de expressão num ambiente estranho aquele em que se gerou, adaptando-se e vincando a língua do Brasil.

E o vocabulário que organizei, com o auxílio do preto Manuel da Cruz, e dos srs. Serjobes Augusto de Faria, de Itaúna, oeste de Minas, e José Aristides de Sales e João Justino, de Belo Horizonte, fixa justamente esse momento de transformação que a “undaca” sofreu em presença do meio brasileiro.

O município de Itaúna, sob o ponto de vista dos estudos negros, é uma região, digna de apreço, antes que desapareçam os últimos vestígios quimbundos que ali tiveram marcada importância. São comuns na toponímia do município as palavras bántus como Catumba, Calambau, CaxambúMarimbondo, Cafuringa, etc.




Texto extraído do livro: FILHO, João Dornas. A Influência Social do Negro Brasileiro. Ed.Guaíra, São Paulo, 1942, p.71-72.

Pesquisa e organização: Charles Aquino