sábado, 27 de abril de 2024

ASSOCIAÇÃO DE SANTA ZITA EM ITAÚNA

 

   Hoje, 27 de abril, celebra-se o dia de Santa Zita, virgem de Lucca, venerada padroeira das “Empregadas Domésticas”. Nascida em 1218 no povoado de Monsagrati, localizado perto da cidade de Lucca, na região italiana da Toscana, Zita vinha de uma modesta família camponesa. Envolvida no trabalho das famílias opulentas da nobreza, ela receberia sustento e roupas em troca de seu serviço dedicado. No entanto, este arranjo assemelhava-se a um “regime de servidão”, pois ela apresentava-se como uma dependente perpétua das famílias a quem servia. 

   Entre as décadas de 50 e 70, na próspera cidade de Itaúna, localizada na região Centro-Oeste de Minas Gerais, um notável coletivo de mulheres altruístas, predominantemente de ascendência africana, formou a Associação de Santa Zita. Sobre esse período, tivemos a oportunidade de conversar com quatro ex-trabalhadoras domésticas que faziam parte da Associação Santa Zita de Itaúna. Estas pessoas, Dona Edite Marques de Oliveira Melo (80 anos), Dona Geni Ferreira Pinto (86 anos), Dona Vicência Maria de Jesus (94 anos), e sua irmã, Dona Custódia Maria da Cruz Santos (96 anos), ainda emanam simpatia, vitalidade e devoção.


   Nas entrevistas, todas expressaram o profundo impacto que a Associação Santa Zita teve nas suas vidas, tanto em termos de crescimento espiritual como de desenvolvimento profissional. O Padre José Ferreira Neto, que desempenhou um papel fundamental de “guardião” da associação, foi amplamente citado com blandícia por todas as ex-integrantes. Recordavam-no com grande saudosismo, reconhecendo que, embora pudesse ter sido visto por alguns como um sacerdote vigoroso, porém, para elas foi um defensor amável e lépido. Durante entrevista, uma das participantes revelou que havia organizado uma apresentação teatral improvisada para o Padre Zé Netto, apesar de sua aversão a surpresas. No entanto, o resultado revelou-se inesperadamente agradável, pois “o padre caiu na gargalhada” e apreciou a experiência.

   A primeira missa era celebrada às 6h na Igreja da Matriz, momento que elas lembram ter participado antes de iniciarem o seu labor às 7h. Refletindo sobre a história de Santa Zita, uma das ex-domésticas relembrou as árduas horas que dedicou à casa dos patrões. Trabalhando incansavelmente sete dias por semana, carregou uma carga de trabalho superior a 8 horas por dia — “O patrão gostava de almoçar e jantar”. Contudo, para além das suas funções profissionais dentro das casas destas famílias, estas trabalhadoras domésticas também realizavam um trabalho afetivo e social, muitas vezes cuidando de crianças na ausência dos seus ocupados tutores.

   Neste período específico, o Dr. Célio Soares de Oliveira, Prefeito Municipal em exercício, aprovou oficialmente a Lei nº 509, em 29 de março de 1960. O artigo primeiro desta lei concedia permissão para doação de um terreno na vila Nogueira Machado à "Associação de Santa Zita". Os artigos segundo e terceiro estipulavam que este terreno se destinava à construção de uma residência para “as domésticas idosas e desamparadas”. Porém, se nada fosse construído no prazo de três anos, o terreno reverteria a “Patrimônio Municipal”.

   Já em 30 de janeiro de 1963, o prefeito alterou a Lei nº 509, passando pela Lei nº 627. A modificação refere-se especificamente ao artigo primeiro, que passou a ter a seguinte redação: “Fica o senhor Prefeito Municipal autorizado a doar à Associação de Santa Zita, 1 (um) lote de terreno com 600 m2 (seiscentos metros quadrados) [...] à Rua Antônio Orlando, nesta cidade”.

   As fiéis seguidoras de Santa Zita de Itaúna relembraram com alegria as diversas visitas e trabalhos espirituais que realizaram ao lado do padre Netto em diferentes localidades de Itaúna, especialmente no Córrego do Soldado. Além disso, em 1972, o Cônego José Netto organizou uma “romaria” à Basílica de Nossa Senhora Aparecida com as “domésticas de Itaúna” durante o “Ano Marial”. Este evento reuniu devotos de todos os estados, que foram calorosamente recebidos pelo Cardeal Dom Carlos Carmelo de Vasconcelos Motta. A história desta experiência inesquecível foi rememorada por todas em seus depoimentos.

   Conta-se que aqueles que fizeram a “peregrinação” ao Santuário de Aparecida, buscando também a intercessão de Santa Zita, tiveram suas orações atendidas no mesmo ano. Ainda na década de 1972, um marco significativo foi alcançado com a promulgação da Lei 5.859/1972, que visava definir os direitos dos trabalhadores domésticos e garantir-lhes uma vida profissional mais digna. Uma devota seguidora de Santa Zita, diz se lembrar deste período, nos relata recordar vividamente, sobretudo, do momento em que cumpria diligentemente as suas tarefas diárias de limpeza e ouviu as notícias transmitidas pela rádio. Pouco depois, o seu empregador abordou-a e informou-a de que, a partir desse dia, ela teria direito a todos os benefícios exigidos pela lei recém-promulgada.

   No interior da igreja Matriz de Sant'Ana em Itaúna, comumente chamada de Igreja Matriz, encontra-se a venerada imagem de Santa Zita, que anualmente era adornada com uma coroa pelas irmãs devotas e com procissão ao redor. O estimado Maestro Henrique cuida de alguns artefatos que foram gentilmente cedidos para nossa pesquisa, entre eles o estandarte e diversos itens associados à Associação Santa Zita. O Maestro teve um papel significativo guiando-nos até às irmãs devotas e oferecendo “pistas” valiosas ao longo de nossa jornada investigativa.

   A ausência de Dona Ivolina Gonçalves foi profundamente sentida na esfera administrativa. Esta associação teve também o seu valor na ajuda às pessoas que se encontravam desempregadas, onde eram recomendadas, muitas vezes pela administradora, que rapidamente conseguia colocá-las num local de trabalho “casa de família”. Com a morte da coordenadora em 1977, o grupo ficou disperso e não deu mais seguimento com a Associação.

   Vale ressaltar dois detalhes dignos de nota. O primeiro detalhe envolve uma iniciativa legislativa conhecida como Projeto de Lei Municipal número 08/2011, de autoria do Edil Lucimar Nunes Nogueira e aprovada oficialmente por Lei de número 4.545 pelo Prefeito Municipal Eugênio Pinto em 18 de fevereiro de 2011. Essa lei instituiu o “Dia Municipal da Empregada Doméstica em Itaúna, que deverá ser comemorado anualmente no dia 27 de abril. É importante ressaltar que esta data comemorativa foi incluída no Calendário Oficial de Eventos de Itaúna. Passando para o segundo detalhe, a Associação Santa Zita possuía CNPJ válido com o CEP número 35680-030, no município de Itaúna, iniciando em 31/07/1972 com atividades de associações de defesa dos direitos sociais e organizações associativas ligadas à cultura e arte.

   O compromisso inabalável da virgem de Lucca com a caridade cristã conquistou seu amplo reconhecimento entre os pobres. Apesar de viver do trabalho, ela permaneceu firme em sua missão. Ao longo da sua vida, Santa Zita dedicou-se a prestar assistência aos menos favorecidos e aos doentes. Esta devoção altruísta persistiu até a sua morte, aos sessenta anos, em 27 de abril de 1278.

   Com o passar dos anos, a notícia de sua santidade se espalhou e, em 1652, um fato surpreendente foi revelado após a exumação de seu corpo — estava perfeitamente conservado, desprovido de quaisquer sinais de decomposição, o cadáver havia secado e transformado em estado mumificado. Assim, este acontecimento extraordinário solidificou a sua canonização em 1696, sancionada pelo Papa Inocêncio XII. Em 11 de março de 1955, o Papa Pio XII proclamou Santa Zita "protetora universal das servas” ou “padroeira das empregadas domésticas”.

   Atualmente, seu corpo continua repousando em uma capela que leva seu nome, encerrada em um relicário de vidro, venerado pelos devotos, localizada no interior da Basílica de São Frediano, igreja romana em Lucca, na Itália. Hoje recordamos também o 746º aniversário da morte desta santa medieval que viveu no século XIII e continua a viver no coração dos seus fiéis.

   Assim, utilizando registros imagéticos, relatos orais, fontes primárias e impressas, reunimos informações valiosas sobre esta associação e essas incríveis trabalhadoras domésticas, que consideramos um testemunho significativo dos aspectos tangíveis e intangíveis do patrimônio cultural de Itaúna.

Padre José Ferreira Netto


Primeiro grupo da Associação de Santa Zita em Itaúna 

Monsenhor Hilton Gonçalves de Sousa - Monsenhor Álvaro Negromonte


Referências: 

Texto, pesquisa e arte: Charles Aquino - Profissão Historiador Registro nº 343.

Apoio a pesquisa: Luiz Assis

Apoio a pesquisa: Maestro Henrique

Apoio a pesquisa: Professor Pe. José Raimundo Batista Bechelaine