domingo, 25 de fevereiro de 2024
PÉRICLES RODRIGUES GOMIDE
Durante muito tempo, escreveu crônicas sobre Itaúna no jornal "Folha do Oeste", de seu irmão PIU. Tais crônicas foram transformadas no livro "Crônicas e Narrativas de Pancrácio Fidélis", lançado na década de 60, e fez enorme sucesso; Sebastião Nogueira Gomide, o PIU, funcionário dos Correios como Telegrafista e em 1943 fundou o jornal "Folha do Oeste", onde era o proprietário, editor, redator e repórter.
O jornal circulou até sua morte e a viúva, Sra. Esther, (que era também sua prima em primeiro grau), vendeu para o jornalista José Waldemar Teixeira de Melo, que por sua vez o repassou ao jornalista Renilton Pacheco, que mudou o nome para "Folha do Povo" e circula até os dias de hoje; José Nogueira Gomide, engenheiro geólogo, funcionário da Petrobrás; Eponina Maria do Carmo Nogueira Gomide Soares, funcionária pública.
REFERÊNCIAS:
segunda-feira, 12 de fevereiro de 2024
OS NOSSOS PRETOS
Em Itaúna a
memória indígena foi totalmente apagada e a africana, encontra-se em processo
de dolorosa dilapidação: a importância da presença negra está sendo varrida da
nossa história. Há alguns anos fui à cidade de Bomfim com o vereador Alexandre
Campos, que estava procurando registros da migração dos negros pra cá. Chamados
por suas habilidades na tecelagem, eles foram fundamentais para a viabilização
dessa atividade essencial para a consolidação de Itaúna. São fatos que não
podem ser esquecidos.
Com a sua
história espalhada por aí, resta à comunidade negra itaunense, como grande
símbolo da sua identidade, o Alto do Rosário. Entretanto, com a liberação da
construção de edifícios altos, logo ali! a descaracterização daquele espaço é
iminente. Se for perdido o domínio que se tem da paisagem, lembranças e
vivencias importantes vão sumir. Parte desse prejuízo já aconteceu, quando
foram doados terrenos em frente à caixa d’água, terrenos que permitiam visadas
espetaculares do vale do Rio São João. Ainda dá tempo de impedir a continuidade
da tragédia anunciada pelo Plano Diretor, entretanto, os vereadores são brancos
e tradições alheias não interessam a eles.
Os pretos
precisam construir lideranças de visão, comprometidas de fato com o coletivo,
lideranças que trabalhem para fortalecer a autoestima dessa parcela da
população e que compreendam a amplitude da sua história, das suas tradições,
que percebam a importância da manifestação concreta dessa comunidade no espaço
urbano itaunense.
Diante desta
ameaça ao Morro do Rosário, o historiador Charles Aquino e eu começamos a
levantar subsídios para impetrar uma ação pública contra o desvario. Mas o
trabalho nos reservava uma grande surpresa. Num de seus mergulhos cuidadosos,
Charles esbarrou em evidências de que existiu, junto à igreja do Rosário, um
cemitério. Fotos antigas também apontavam nessa direção, mas, a consistência
veio da existência de um registro nominal dos cidadãos enterrados, mais de
duzentos, quase todos pretos. Como não há indícios da transferência dos corpos,
supomos que eles ainda estejam lá. Debaixo do asfalto. A situação precisa ser
investigada e foi o que solicitamos ao Ministério Público: a Prefeitura foi
notificada e há um ano se mantém em silêncio.
Remexo nesse baú
desconfortável, para lembrar que as manifestações deploráveis de racismo não
estão apenas lá longe, na Espanha e nem sempre são evidentes como pendurar um
boneco num viaduto: estão bem aqui, debaixo dos nossos narizes, disfarçadas de
normalidade. Poucos negros têm vez na administração do município. No governo
atual, nenhum secretário, nenhum diretor de departamento. Eles não são chamados
de macacos, mas são tratados como inferiores. Por serem tão pouco
representados, um estrangeiro poderia concluir que os pretos são menos
capacitados, menos educados, menos inteligentes, o que seria um absurdo! Mas é
o que os números insinuam e é o que precisamos desmentir com veemência e ações
concretas.
Sugiro, como
gesto inaugural, a reurbanização do Rosário e a criação de um pequeno museu, um
memorial, que contasse a história da comunidade desde que os negros se
estabeleceram por aqui. Seria uma demonstração do nosso reconhecimento a esses
bravos pioneiros. Os dois milhões do calçamento do Bonfim poderiam ser
utilizados pra isso... nem precisaria de tanto! O memorial se constituiria num
símbolo evidente do nosso compromisso em mudar a atual situação de
esquecimento, podendo dar início a uma série de ações de longo prazo, visando
integrar efetivamente os pretos, na sociedade itaunense.
Eu sempre me
embaralho quando vou chamar os descendentes africanos de pretos ou de negros.
Mas na verdade, isso é irrelevante: são pessoas comuns como quaisquer outras e
ponto. É como devemos considerá-los: irmãos merecedores de toda a nossa estima
e respeito.
Referências:
Texto: Professor
Sérgio Márcio Machado* - Arquiteto, Urbanista, Professor M.Arts
Fonte digital: Redação do Jornal Folha do Povo Itaúna Disponível em: https://www.folhapovoitauna.com.br/os-nossos-pretos em 29 de maio 2023, Itaúna/MG
Acervo
Ilustrativo: Alberto Henschel - Leibniz-Institut Für Länderkunde in
ERMAKOFF, George. O negro na fotografia brasileira do Século XIX. Rio de
Janeiro: George Ermakoff Casa Editorial, 2004. p. 182. ISBN 85-98815-01-2.
Disponível em: https://pt.wikipedia.org/wiki/Afro-brasileiros#/media/Ficheiro:Alberto_Henschel_-_Pernambuco_4.jpg
quinta-feira, 8 de fevereiro de 2024
QUILOMBO DA FAMÍLIA RODRIGUES
A própria terra
ostentava solo fértil e água abundante, resultando em colheitas variadas. Sob a
sábia liderança do velho Belmiro, as provisões eram distribuídas de acordo com
as necessidades individuais de cada membro da comunidade, garantindo a sua
sobrevivência coletiva. Os habitantes desta comunidade tinham interação mínima
com a cidade; eles eram quase totalmente autossuficientes. Envolvidos em
atividades como agricultura, colheita e tecelagem, não tinham interesse em
documentos de propriedade ou dinheiro. Em vez disso, o seu desejo era encontrar
uma nova terra onde pudessem manter o seu modo de vida atual.
Guaracy, em seu
caráter informativo, revela que obteve com sucesso autorização de diversas
empresas e procedeu à compra do restante da Fazenda do João Alves de Morais
(vulgo João do Aarão). Neste terreno foram construídas seis casas, cada uma com
sua área cercada e escritura oficial. Além disso, foi proporcionado
a eles acesso à água, garantindo que tivessem tudo o que desejavam. Como gesto
de compensação, cada casal também recebeu Cr$ 10.0000,00 (dez mil cruzeiros) em
26 de janeiro de 1956.
Em certas
ocasiões, o historiador atravessava o lago de barco, acompanhado de alguns
amigos, e comemorava com “foguetes, bebidas e biscoitos” junto com os
quilombolas. Estas confraternizações
festivas prolongavam-se até altas horas da manhã, com danças animadas no
terreiro ao ritmo da cabecinha de égua, acompanhadas pelos sons melodiosos dos
oito contrabaixos de Vicente Ventura. Os indivíduos expressaram profunda
gratidão, no entanto, constataram de que a terra em si não era tão fértil como
esperavam. Consequentemente, tomaram a decisão de vender suas propriedades.
Inicialmente, aqueles que procuravam um retiro à beira do lago eram os
principais compradores. Infelizmente, a cidade não se mostrou benéfica para
muitos deles e apenas alguns fizeram algum progresso significativo.
Às vezes, ainda segundo
Guaracy, recebia mensagens solicitando transporte de barco para levar Belmiro
ao hospital, pois foi um amigo fiel até sua morte. A companheira de Belmiro,
Dona Conceição, também faleceu na cidade após viver uma vida marcante e longa
ao lado do patriarca. O historiador ainda ressalta que as histórias de todos
aqueles habitantes permaneceram intacta em suas memórias, incluindo Joaquim
Rodrigues (viúvo), João Rodrigues casado com Mercês Maria Rodrigues; Marinho Rodrigues c/c Maria Severina de Jesus; Francisco Rodrigues c/c Vicentina
Rodrigues de Paula; José Rodrigues c/c Maria Alves Rodrigues;
Divino Rodrigues c/c Raimunda Vieira Rodrigues, bem como outros
indivíduos ainda menores de idade. Destaca que se tratava de pessoas de bom
caráter, honrados, humildes, indiferentes às agruras da vida, exemplificando a
natureza pacífica e vida dinâmica daqueles verdadeiros quilombolas.
Hipótese
Após realizar uma breve investigação sobre o líder quilombola Belmiro, estou confiante de que as informações que encontrei estão alinhadas com as conclusões do pesquisador Guaracy. Para verificar ainda mais a veracidade, seria necessário o acesso às escrituras de terra daquela época. Com base nos documentos que examinei posso fornecer os seguintes dados: o nome completo do patriarca era Belmiro Severino Rodrigues, natural de Itaúna. Faleceu em 17 de abril de 1968, aos 78 anos, no dia seguinte foi sepultado no Cemitério Central do município de Itaúna. O registro de óbito o categoriza como filho de Carlota de tal, o que é bastante intrigante. Vale ressaltar que o nascimento de Belmiro ocorreu por volta de 1890, período pós-abolição. A partir disto, pode-se razoavelmente presumir que a sua mãe provavelmente tinha sido escravizada antes deste ato significativo de mobilização.
TABLOIDE DA FAMÍLIA RODRIGUES PARA BAIXAR
Referências:
Pesquisa e
organização: Charles Aquino - Historiador Registro Profissional nº 343/MG
Fonte Impressa: NOGUEIRA, Guaracy de Castro. In
Enciclopédia Ilustrada de Pesquisa: Itaúna em detalhes. Ed. Jornal Folha
do Povo, 2003, fascículo 34.
Imagem
Ilustrativa: Autor Johann Moritz Rugendas, Escravidão, Habitation
de négres, 1827. Brasiliana Iconográfica, Acervo da Pinacoteca do
Estado de São Paulo, Brasil. Coleção Brasiliana/Fundação Estudar. Doação da
Fundação Estudar, 2007. Disponível em:
Cemitérios
Municipais: Prefeitura Municipal de Itaúna. Registro de óbito. Disponível em: https://www.itauna.mg.gov.br/portal/cemiterios/7207/
Certidão de óbito MG Cidadão: Disponível em: https://cidadao.mg.gov.br/#/login
sexta-feira, 2 de fevereiro de 2024
RAINHA DO REINADO
REGISTRO DE ÓBITO: 27/12/2023
CEMITÉRIO CENTRAL DE ITAÚNA/MG
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Referências: