Irmã Benigna: Devoção e Liderança de
uma mulher negra
Negra e pobre enfrentou a
rejeição da congregação inicial à qual procurou ingressar. Porém, uma virada
ocorreu quando Dom Carlos de Carmelo Mota, nomeado Bispo Auxiliar em
Diamantina, estabeleceu um vínculo com sua família. Reconhecendo a sua vocação,
ligou-a às Irmãs Auxiliares de Nossa Senhora da Piedade, onde encontrou o seu
lugar e se dedicou a uma vida de santidade. Em 1935, Maria da Conceição Santos,
devota de Nossa Senhora de Lourdes, tornou-se membro da Congregação. Em 1936,
abraçou formalmente a obediência ao fazer seus votos religiosos iniciais. A
partir desse momento, adquiriu o nome de Irmã Benigna Víctima de Jesus,
marcando o início de sua jornada missionária ao se dedicar à prestação de
serviços espirituais em áreas designadas pela Congregação.
Em 1941, participando de
cerimônia em Itaúna, fez os votos perpétuos. Durante este significativo evento,
a Superiora da Congregação e outras religiosas, estiveram presentes para
testemunhar o seu compromisso. A partir de uma investigação realizada neste
ano, com considerável abrangência, é altamente provável que tenha concluído com
êxito um curso de três anos na "Escola de Enfermagem do Estado de São
Paulo", obtendo o prestigiado título de "Enfermeiro Prático
Licenciado". A conceituada instituição era conhecida pela adesão aos
padrões de ensino europeus e norte-americanos, e havia uma lista de formandos
daquele ano que incluía seu nome.
Em 1943, foi nomeada Irmã Superiora,
onde atendeu diligentemente às necessidades de suas irmãs. Irmã Benigna, na
qualidade de diretora da Santa Casa em Itaúna, criou uma maternidade dedicada a
prestar assistência às mães desfavorecidas. Ela não apenas ofereceu apoio
durante o parto, mas também transmitiu conhecimentos valiosos sobre a educação
dos filhos, abrangendo aspectos como saúde, higiene, nutrição e cuidados
emocionais. Em 1946, participou ativamente na cerimônia de lançamento da pedra
fundamental do recém-construído edifício hospitalar em Itaúna, atualmente
reconhecido como Hospital Manoel Gonçalves, abençoado pelo padre Waldemar
Antônio de Pádua Teixeira e pelo padre José Ferreira Netto.
Em 1947, Irmã Benigna concluiu
seu mandato de doze anos como superiora do hospital, deixando uma profunda
influência na comunidade itaunense e um legado duradouro de melhores serviços
de saúde. Ao lado das Irmãs Auxiliares da Piedade, o seu compromisso compassivo
em prestar cuidados humanos e eficazes contribuiu grandemente para o bem-estar
dos doentes e desfavorecidos. No mesmo ano, em de 16 de novembro, registrou
informações sobre os serviços prestados no Hospital de Itaúna ao longo dos anos
— em 1943, o movimento do estabelecimento incluía 62 cirurgias de grande porte,
6.558 consultas, 7.861 curativos, 2.207 injeções, 366 pequenas cirurgias e
5.138 receitas. Em 1944 foram 8.376 consultas, 84 cirurgias de grande porte,
8.146 curativos, 6.796 injeções, 482 pequenas cirurgias, 8.167 prescrições. Em
1945 foram 7.849 consultas, 76 cirurgias de grande porte, 7.842 curativos,
6.425 injeções, 436 pequenas cirurgias, 7.948 prescrições. De 1946 até outubro
de 1947 foram 8.264 consultas, 69 grandes cirurgias, 7.896 curativos, 5.904
injeções, 392 pequenas cirurgias, 6.948 prescrições.
Em 1948, Irmã Benigna Víctima de
Jesus completou sua missão em Itaúna. Seu legado é definido pelo amor, fé e
compaixão, que ela demonstrou através de dedicação inabalável e altruísmo. Uma
das observações finais da Irmã capta o seu compromisso — “procurei cumprir o
dever que me foi imposto como também na medida de minhas forças, mantive como
foi possível a minha capacidade, a ordem e o respeito dentro do Hospital”.
Sua passagem por Itaúna foi
marcada por um profundo impacto, consolidando-se como um período de
significativa evolução e humanização no atendimento à saúde da comunidade. Os
efeitos das ações caritativas estenderam-se além dos cuidados médicos para
abranger a espiritualidade, atraindo inúmeras pessoas a procurarem consolo em
Deus. No hospital, desempenhou com diligência todos os trabalhos essenciais,
auxiliando os pacientes e seus entes queridos, oferecendo acomodações, sustento
e encorajamento. Através da sua organização nas tarefas cotidianas juntamente
com as orações, bem como da sua abordagem compassiva para com os pacientes,
familiares e funcionários, ela irradiava a sua santidade, resultando numa
multidão de conversões e num aumento de pedidos de orientação e intercessão.
Na prática de enfermagem,
demonstrou também um compromisso inabalável com o bem-estar dos familiares dos
pacientes, garantindo-lhes muitas vezes auxílio no hospital ou na comunidade
local, assegurando a sua proximidade durante o tratamento. Ela não apenas
ofereceu provisões como alimentos, roupas e remédios, mas também deu
orientações valiosas sobre como manter os cuidados adequados em casa.
Irmã Benigna, uma líder negra e
resiliente, transcendeu as dificuldades impostas pela pobreza para se tornar
uma figura de grande impacto na sociedade. Desde jovem, demonstrou uma fé
profunda e um desejo intenso de ajudar os mais necessitados, onde se dedicou a
cuidar de doentes, idosos, órfãos e marginalizados. Ao enfrentar inúmeras
adversidades com resiliência, nunca permitindo que as barreiras sociais a
impedissem de cumprir sua vocação. Sua determinação em servir aos outros se
manifestava em atos concretos de amor e caridade, evidenciando uma
espiritualidade enraizada no serviço ao próximo. Ela não apenas atendia às
necessidades físicas das pessoas, mas também oferecia conforto espiritual,
promovendo a dignidade humana e a esperança.
Nos registros oficiais do hospital de Itaúna, a dedicação da Irmã Benigna em manter a disciplina e a reverência dentro da instituição é expressa de forma eloquente, destacando a sua devoção, liderança e compromisso em cumprir diligentemente as suas responsabilidades. Nas décadas de 1930 e 1940, Irmã Benigna – uma mulher negra – deixou um legado imensurável de liderança e comprometimento não só na Santa Casa, mas no Município de Itaúna (MG).
Referências:
Organização, arte
e pesquisa: Charles Aquino - Historiador Registro nº 343/MG
Ata da Casa de Caridade Manoel Gonçalves de Souza Moreira — Itaúna/MG. Registrado sob nº 16.539 às fls 272 vº do Livro A-XI, p.13-15.
Jornal Correio
Paulistano, 15 de junho de 1941, Ed. 26.158, p.25. Hemeroteca Digital.
Jornal Correio Paulistano,
02 de fevereiro de 1941, Ed. 26.047, p.11. Hemeroteca Digital.
Jornal A Noite,
Rio de Janeiro, 16 de outubro de 1925, Ed.4.994, p.7. Hemeroteca Digital.
Jornal Irmã Benigna notícias Ed. nº77, p.4-5. Disponível em: https://www.irmabenigna.org.br/novo/pt/edicao.php?e=77.
CIANSP — Congregação
das Irmãs Auxiliares de Nossa Senhora da Piedade em Caeté/MG. Disponível
em: https://www.ciansp.com.br/fundador/.
AMAIBEN - Biografia
da serva de Deus Irmã Benigna, Disponível em: https://www.irmabenigna.org.br/novo/pt/biografia.php.
Acervo
fotográfico: Prof. Marco Elísio Coutinho (In Memoriam)
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